Relato Pessoal: A Luta por Inclusão de Crianças com Alergia Alimentar na Escola
Toda vez que chega a semana da criança, sinto uma mistura de emoções. Não consigo evitar os gatilhos emocionais que essa época traz, lembranças de quando meu filho ainda era uma criança com alergia alimentar. Durante anos, nossa família viveu uma batalha constante com a escola, buscando uma inclusão real e eficaz para ele. No entanto, o que frequentemente enfrentávamos era uma “exclusão disfarçada de cuidado”. Embora hoje, com mais maturidade e perspectiva, eu reconheça que ninguém era realmente culpado – nem eu como mãe, nem a escola –, estávamos todos aprendendo juntos. Eu, como mãe de uma criança com alergia alimentar, e a instituição, tentando encontrar o caminho correto para lidar com a situação.
Atividades simples, como brincar com massinha, tornavam-se verdadeiros desafios. Embora meu filho tivesse a sua própria massinha hipoalergênica, as outras crianças, tão pequenas, não entendiam a necessidade de manter a distância. Elas compartilhavam brinquedos e, eventualmente, suas mãos tocavam umas nas outras. Era impossível evitar o contato, e essa realidade era um pesadelo para mim. As atividades que deveriam ser leves e divertidas, como a apresentação de circo, o dia do brinquedo e o dia da fantasia, sempre terminavam com ele isolado, em uma mesa separada, para garantir sua segurança. Mas quem pensava no impacto emocional desse isolamento? Comer separado dos colegas, estar de fora das atividades de culinária… essas experiências deixaram marcas profundas, que até hoje repercutem em seu psicológico.
Durante esses anos, o estresse, a frustração e a sensação de impotência me acompanharam. Na minha cabeça, a inclusão parecia ser algo simples: “O que ele pode, todos podem. O que todos podem, ele não pode”. Mas, por que não adaptar o que todos podem? Cada festividade da escola que envolvia alimentos me deixava aflita. Meu filho, sempre consciente e compreensivo, sabia o que podia e o que não podia comer. Ele perguntava antes de comer qualquer coisa. Porém, conforme foi crescendo, entrou em negação. A expectativa de que um dia ele se tornaria tolerante aos alérgenos não se concretizava, e o desejo de experimentar novos alimentos só aumentava.
Então, decidimos mudar de escola pela primeira vez. Encontramos um colégio que, à primeira vista, parecia ideal – com princípios cristãos e uma alimentação vegana. Acreditávamos que aquele seria o melhor ambiente para ele. No entanto, a decepção foi grande. Em uma das atividades da sala de aula, a professora pediu que os alunos levassem derivados de certos alimentos, incluindo leite e oleaginosas, justamente os alimentos que meu filho não podia consumir. Para piorar, ela disse a ele e a um outro garoto vegano que eles não poderiam participar da atividade. A dor que senti ao ouvir isso, primeiro do meu filho e depois da própria professora, foi indescritível. Decidimos mudar de escola novamente.
Na segunda escola, o ambiente era muito mais acolhedor. Eles se adaptaram em muitas coisas, até mesmo trocando os produtos de higiene e limpeza. Parecia que finalmente havíamos encontrado um lugar seguro para ele. No entanto, as falhas ainda existiam, especialmente fora dos muros da escola, durante excursões. Tínhamos todo o apoio dos donos da escola, mas o problema estava além; toda a comunidade escolar precisava incorporar a inclusão no DNA. Houve também episódios de bullying, onde outras crianças pegavam o lanche que ele levava e ele ficava sem ter o que comer. Talvez ele ainda não tenha a dimensão completa de como seus direitos foram violados, mas eu, como mãe, sofri por ele e por nós.
Este ano, pela primeira vez, meu filho está ansioso para participar do lanche coletivo na semana da criança. E essa ansiedade não é apenas pelo evento em si, mas pela lembrança dolorosa de que, na mesma escola, ele passava por momentos de exclusão. Anos atrás, enquanto os colegas partilhavam seus lanches, ele era colocado na ponta da mesa, ou até mesmo em outra mesa, separado, sempre por “cuidado”. Esse isolamento, apesar de intencionado para proteger sua saúde, marcava profundamente sua experiência emocional. Agora, a expectativa de finalmente estar no mesmo espaço, comendo os mesmos alimentos, compartilhando o momento com todos, sem distinções, é o que torna esse lanche tão especial. O que antes era um motivo de medo e apreensão agora é motivo de alegria. Mas, embora a alergia tenha saído da nossa vida, sair da “mentalidade da alergia” é um processo muito mais lento.
Essa jornada me inspirou a criar este projeto. Ao longo dos anos, me muni de documentos e materiais, conversei e treinei coordenadores, professores e recreadores. Recebi apoio de outras mães que já estavam nessa jornada e, da mesma forma, ajudei as mães que vieram depois de mim. Esse projeto é uma forma de conscientizar a comunidade escolar de que a alergia alimentar não se trata apenas de evitar certos alimentos – ela envolve muito mais do que isso. A maioria das crianças com alergia alimentar está em idade escolar, e é na escola que muitas falhas acontecem. Todos precisam estar preparados.
Se você se identificou com minha história, compartilhe as minhas redes sociais com a escola do seu filho. Além do Instagram, tenho um blog onde compartilho boas práticas para o acolhimento do aluno com alergia alimentar em diversas situações escolares. A inclusão não pode ser apenas um gesto pontual, mas uma prática constante e coletiva.
Vamos juntos construir escolas mais inclusivas.

