Inclusão Escolar Vai Além da Alimentação: O Impacto das Pequenas Exclusões no Dia a Dia
Alergia alimentar é um desafio que muitas crianças enfrentam na escola, e garantir a inclusão vai muito além de oferecer um cardápio adaptado. Já falamos aqui no blog sobre a importância de revisar protocolos, treinar professores e garantir segurança alimentar, mas hoje quero trazer uma reflexão sobre outro tipo de exclusão: aquela que acontece de forma sutil, nas interações diárias e em atividades escolares.
Recentemente, um episódio na escola do meu filho, me fez refletir muito sobre isso. Durante uma atividade de troca de mensagens entre alunos, algumas crianças saíram sem receber nada. A proposta era incentivar empatia e fortalecer laços, mas sem um olhar cuidadoso, acabou deixando algumas crianças invisíveis.
Isso me trouxe de volta a muitas experiências que vivi com meu filho, Nicollas, que já teve alergia alimentar severa. Durante anos, ele foi afastado de festas, atividades culinárias e até orientado a faltar em certos dias – não por maldade, mas porque a escola não sabia como incluí-lo de forma segura e natural. Com o tempo, aprendi que a exclusão raramente é intencional, mas quase sempre vem da falta de preparo.
A exclusão de crianças com alergia alimentar acontece de várias formas:
- Quando a escola “resolve o problema” afastando a criança em vez de adaptar o ambiente.
- Quando há festas e eventos sem opções seguras, deixando a criança à margem.
- Quando há brincadeiras e atividades escolares que não levam em conta as diferenças, como no caso da troca de cartinhas.
E isso não acontece apenas com crianças alérgicas. Muitas crianças com outras necessidades específicas – como neurodivergências ou desafios emocionais – passam pelo mesmo tipo de exclusão. Às vezes, não é uma proibição explícita, mas uma falta de sensibilidade que acaba isolando a criança.
Não basta apenas falar sobre inclusão, é preciso colocá-la em prática. Algumas mudanças simples podem fazer toda a diferença, como:
✔ Envolver as famílias nas atividades – Materiais complementares das aulas de educação emocional muitas vezes não são usados. Se as famílias soubessem antecipadamente das atividades, poderiam ajudar seus filhos a se prepararem emocionalmente e participar de forma mais significativa.
✔ Garantir que todas as crianças participem – Se uma atividade envolve interação entre os alunos, deve ser planejada com atenção para que ninguém saia sem se sentir incluído.
✔ Observar melhor as interações sociais na escola – Pequenas exclusões podem passar despercebidas, mas têm um grande impacto emocional. Um olhar mais atento dos professores e coordenadores pode evitar que crianças saiam machucadas dessas experiências.
✔ Criar um ambiente que valorize as diferenças – Crianças com alergia alimentar, neurodivergência ou qualquer outra particularidade não precisam de “soluções paliativas”. Elas precisam fazer parte do grupo, com adaptações reais e respeito às suas necessidades.
O que aconteceu nessa atividade das cartinhas foi um reflexo do que acontece com muitas crianças todos os dias na escola. Alergia alimentar não exclui apenas na hora do lanche – ela pode gerar exclusão em festas, passeios, brincadeiras e interações sociais.
Como pais, professores e responsáveis, precisamos ir além da comida e olhar para a inclusão como um todo. Cada detalhe importa. Pequenas escolhas podem fazer a diferença entre uma criança se sentir parte ou se sentir isolada.

